RELAÇÕES DE TRABALHO NA DINÂMICA DO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO: UMA ANTECÂMARA PARA O SUICÍDIO?
RELAÇÕES DE TRABALHO NA DINÂMICA DO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO: UMA ANTECÂMARA PARA O SUICÍDIO?
Índice
1. INTRODUÇÃO
2. A EMERGÊNCIA DE UM REGIME DE ACUMULAÇÃO FLEXÍVEL
3. ELEMENTOS PRECARIZANTES DAS RELAÇÕES DE TRABALHO
4. NOTAS FINAIS
O suicídio relacionado ao trabalho é um fenômeno que alerta o mundo organizacional de forma impactante. Entender o porquê deste fenômeno não é tarefa fácil, tendo em vista que o mesmo é multifatorial. Entretanto, analisando a questão do ponto de vista das relações de trabalho, é possível encontrar elementos que auxiliam na produção do suicídio enquanto meio de acabar com o sofrimento derivado da esfera laboral. Desse modo, propomo-nos no presente artigo a discutir sobre estes elementos, produzidos na sociedade capitalista, que apresentam o suicídio como uma alternativa ao indivíduo. Para isso, realizamos uma breve análise das mudanças no mundo do capital desde a década de 1970, passando pelo desmonte do regime de regulação vigente e adentrando a era da flexibilização, a qual acarretou um aumento na precariedade das relações de trabalho, desembocando em elementos como o estresse, burnout, assédio moral e sexual, dentre tantos outros flagelos, frutos da intensificação da precarização do trabalho. A análise das mudanças nas relações de trabalho a partir desta perspectiva mostrou que aqueles são os elementos, juntos a tantos outros, que fazem a mediação da criação do suicídio enquanto possibilidade plausível para o indivíduo, estando o modo de produção capitalista, a forma como se organiza, diretamente ligada ao fenômeno suicídio.
Aline Fábia Guerra de Moraes é doutoranda em Administração na Universidade Federal de Minas Gerais. É Mestre (2015) e Bacharel (2012) em Administração pela Universidade Federal da Paraíba. Tem interesse nas áreas de Relações de Trabalho e Gestão de Pessoas, Prazer e sofrimento no trabalho, Suicídio, Terceirização, Trabalho Informal.
Deise Luiza da Silva Ferraz é professora adjunta na Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Professora nos Programas de Pós-Graduação em Administração e em Direito da UFMG. VicePresidente da Sociedade Brasileira de Estudos Organizacionais e Coordenadora do Núcleo de Estudos Críticos
Trabalho e Marxologia. Tem interesse nas áreas de Sociologia do Trabalho, Teoria Marxista, Materialismo Histórico Dialético, Crítica da Economia Política e da Administração.
João Areosa é doutor em Sociologia pelo ISCTE-IUL. Investigador integrado no CICS-NOVA (Universidade Nova de Lisboa). Professor Adjunto Convidado no Instituto Politécnico de Setúbal (IPS). Tem interesse nas áreas de segurança ocupacional e trabalho.
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