Gestão pela Qualidade Total e Objetivos de Desenvolvimento Sustentável nas Instituições de Ensino Superior Portuguesas: Contributo do programa Erasmus+ no âmbito do International Credit Mobility
A Gestão pela Qualidade Total ou Total Quality Management (TQM) e a Sustentabilidade, baseada nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), são, atualmente, dimensões relevantes para a competitividade das Instituições de Ensino Superior. Adicionalmente, o Programa Erasmus+ contribui para essa competitividade, através das mobilidades no âmbito do International Credit Mobility (ICM).
Este estudo surgiu no âmbito de uma Tese de Doutoramento em Gestão da Universidade de Évora (Nogueiro, 2022).
Ao tornar-se competitivo e sujeito às leis do mercado, o Ensino Superior tem sido considerado como uma atividade mundial (Nadim & Al-Hinai, 2016). Segundo esses mesmos autores, para lidar com estes desenvolvimentos, as IES descobriram que a TQM é uma abordagem inevitável para alcançar os objetivos e segundo Brookes & Becket (2007) para aumentar a eficácia global, eficiência, coesão, adaptabilidade e competitividade. A estrutura global das Instituições de Ensino Superior é concebida para atingir objetivos de investigação, de ensino e de extensão (Davim & Filho, 2016; Salleh, Habidin, Noor & Zakaria, 2019).
A TQM tem sido objeto de uma atividade de investigação que se pode considerar relevante. Todavia, o conteúdo e a definição do termo não são consensuais. Desde os anos 80 do século XX, a TQM tem sido considerada como uma das mais populares abordagens de gestão através da qual as organizações empresariais melhoram as suas capacidades de gestão e o seu desempenho, e alcançam a qualidade e excelência que lhes é exigida (Dahlgaard-Park, Reyes, & Chen, 2018). Segundo um estudo de Hendricks e Singhal (2001), a implementação da TQM melhora efetivamente o desempenho ao nível dos indicadores financeiros e reduz os custos através de melhorias de processos, diminuindo defeitos, reduzindo o refazer o trabalho e o desperdício. A TQM é, pois, uma abordagem de gestão que foi inicialmente aplicada na indústria, mas que ao longo do tempo foi sendo utilizada em outros tipos de instituições, nomeadamente as Instituições de Ensino Superior (IES). O sector do Ensino Superior tornou-se muito competitivo e sujeito às forças do mercado e como tal, tem sido considerado como um negócio de caráter mundial. Foi assim que as IES perceberam que para lidarem com estas questões, a TQM se tornou uma abordagem inevitável para alcançar os objetivos empresariais (Nadim & Al-Hinai, 2016) e aumentar a eficácia global, eficiência, coesão, adaptabilidade e competitividade de uma empresa (Brookes & Becket, 2007).
Apesar do facto do Ensino Superior ter múltiplos clientes e partes interessadas (e.g. futuros empregadores, governo, sociedade), os estudantes são os principais clientes. A educação é descrita como o processo de aprendizagem do conhecimento, assim como o conhecimento, a competência e a compreensão, adquiridos através da frequência de uma escola, faculdade ou universidade. A natureza da educação (como um serviço) é que oferece a base para a aprendizagem e demonstra que a aprendizagem ocorreu. Quer os estudantes se vejam ou não como cocriadores, é importante lembrar que a educação só pode acontecer se a aprendizagem acontecer (Guilbault, 2018).
A Sustentabilidade, segundo Bañon Gomis, Guillén Parra, Hoffman & McNulty (2011), não é apenas uma “moda ou tendência” apreciada pelas circunstâncias externas, estando também ligada à ética que guia a atividade humana, representando as virtudes da coragem, da prudência e da esperança. Embora o termo “sustentabilidade” tenha ganho recentemente popularidade, o conceito tem raízes antigas e universais. Em termos ecológicos, e segundo Boff (2017), sustentabilidade tem a ver com as ações que empreendemos para permitir que a Terra e seus biomas se mantenham vivos, protegidos e alimentados de nutrientes, de modo a que estejam sempre bem conservados e capazes de enfrentar riscos futuros.
Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) definem prioridades e aspirações globais para 2030 e exigem uma ação mundial por parte de governos, organizações e sociedade civil para erradicar a pobreza e criar uma vida com dignidade e oportunidades para todos, dentro dos limites do planeta. Espera-se que o ensino superior contribua com conhecimento e inovação para enfrentar os desafios sociais, económicos e ambientais, através da formação tanto de pessoal académico como de estudantes (Chaleta, Saraiva, Leal, Fialho, & Borralho, 2021).
Também a promoção do Desenvolvimento Sustentável tem aumentado o interesse na qualidade e internacionalização da investigação a fim de melhorar a qualidade do ensino (Salvioni, Franzoni, & Cassano, 2017), demonstrando que uma instituição de Ensino Superior com Desenvolvimento Sustentável e apoio adequados beneficiará em termos de melhoria da qualidade (Salleh et al., 2019).
Os fatores críticos que afetam o sucesso do Desenvolvimento Sustentável começam com um nível específico de compreensão por parte das partes interessadas de cada instituição de Ensino Superior (Salleh et al., 2019). Assim, parece óbvio que a falta de conhecimentos, capacidades, competências, gestão do tempo e autoridade, bem como a falta de material de orientação sobre Desenvolvimento Sustentável, sejam destacados como desafios à implementação da gestão sustentável das unidades nas universidades (Awuzie, Emuze & Ngowi, 2015).
Sendo a educação um Fator Crítico de Sucesso (FCS) das IES, diferentes especialistas defendem a incorporação da sustentabilidade nos currículos universitários como um sólido ponto de partida para abordagens relacionadas com a sustentabilidade (e.g. Ahmed, Majid, Zin, Phulpoto & Umrani, 2016; Minguet, Martinez-Agut, Palacios, Piñero & Ull, 2011; Salleh et al., 2019). Paralelamente, a falta de formação entre os educadores, resulta em benefícios insuficientes a longo prazo que podem ser prestados aos estudantes e a mobilidade dos estudantes pode resultar numa consequência (Velazquez, Munguia & Sanchez, 2005).
A reforma de Bolonha sobre os diplomas, o sistema de créditos ECTS, o Quadro Europeu de Qualificações e a institucionalização de sistemas de avaliação da qualidade no Ensino Superior, todos impulsionados pela Associação Europeia para a Qualidade no Ensino Superior, são exemplos de respostas a estas necessidades (Beerkens & Vossensteyn, 2011). Considerando que o Programa Erasmus+ permite às IES beneficiarem de ações que possibilitem alcançar o acima mencionado, o impacto que tem na educação, qualificação e formação das pessoas, nas sociedades, nas instituições e nos sistemas educativos é percetível e eficaz (Beerkens & Vossensteyn, 2011; Brandenburg, Berghoff, & Álvarez, 2014; Engel, 2010).
O Programa Erasmus+ para 2021-2027 pretende ser um instrumento de apoio ao crescimento sustentável, empregos de qualidade e coesão social, para impulsionar a inovação e para reforçar a identidade europeia e a cidadania ativa, através da aprendizagem ao longo da vida, do desenvolvimento educacional, profissional e pessoal dos indivíduos (EUR-Lex Access to European Union Law. Document 32021R0817, 2021). Este “é um instrumento fundamental para construir um espaço europeu da educação, apoiar a execução da cooperação estratégica europeia em matéria de educação e formação, nomeadamente das respetivas agendas setoriais, fazer progredir a cooperação no domínio da política de juventude ao abrigo da Estratégia da União Europeia para a Juventude 2019-2027 e desenvolver a dimensão europeia do desporto” (EUR-Lex Access to European Union Law. Document 32021R0817, 2021, p.15).
Com este trabalho de investigação científica pretende-se avaliar a importância dos Fatores Críticos de Sucesso da TQM e da Sustentabilidade e o contributo para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável do Programa Erasmus+ e do International Credit Mobility no contexto das Instituições de Ensino Superior Portuguesas.
Ahmed, U., Majid, A. H., Zin, M. L., Phulpoto, W., & Umrani, W. A. (2016). Role and impact of reward and accountability on training transfer. Business and Economics Journal, 7(1). http://dx.doi.org/10.4172/2151-6219.1000195.
Awuzie, B., Emuze, F., Ngowi, A. (2015, December 9-11). Critical success factors for smart and sustainable facilities management in a South African University of Technology. [Paper presentation]. Conference-Smart and Sustainable Built Environment (SASBE 2015), University of Pretoria, South Africa. https://www.comarchitect.org/conference-smart-and-sustainable-built-environment-sasbe-2015/.
Bañon Gomis, A. J. Guillén Parra, M., Hoffman, W. M., McNulty, R. E. (2011). Rethinking the concept of sustainability. Business and Society Review, 116(2), 171-191.
Beerkens, M., & Vossensteyn, H. (2011). The Effect of the Erasmus Program on European Higher Education. In J. Enders et al. (eds.), Reform of higher education in Europe (pp. 45-62). Brill Sense.
Boff, L. (2017). Sustentabilidade: o que é-o que não é. Editora Vozes Limitada.
Brandenburg, U., Berghoff, S., & Álvarez, O. T. (2014). The Erasmus Impact Study: Effects of mobility on the skills and employability of students and the internationalisation of higher education institutions. European Commission. Publications Office.
Brookes, M. and Becket, N. (2007). Quality management in higher education: A review of international issues and practice, International Journal of Quality Standards, 1(1), 85-121.
Chaleta, E., Saraiva, M., Leal, F., Fialho, I., & Borralho, A. (2021). Higher Education and Sustainable Development Goals (SDG)—Potential Contribution of the Undergraduate Courses of the School of Social Sciences of the University of Évora. Sustainability, 13(4), 1828. https://doi.org/10.3390/su13041828.
Dahlgaard-Park, S. M., Reyes, L., & Chen, C. K. (2018). The evolution and convergence of Total Quality Management and management theories. Total Quality Management & Business Excellence, 29(9-10), 1108-1128. https://doi.org/10.1080/14783363.2018.1486556.
Davim, J. P., & Filho, W. L. (2016). Challenges in Higher Education for Sustainability. London: Springer International Publishing Switzerland. https://doi.org/10.1007/978-3-319-23705-3.
Engel, C. (2010). The impact of Erasmus mobility on the professional career: Empirical results of international studies on temporary student and teaching staff mobility. Belgeo. Revue Belge de Géographie, (4), 351–363.
EUR-Lex Access to European Union Law. Document 32021R0817. (2021). Regulation (EU) No 2021/817 of the European Parliament and of the Council of 20 May 2021 establishing Erasmus+: the Union Programme for education and training, youth and sport and repealing Regulation (EU) No 1288/2013 (Text with EEA relevance). https://eur-lex.europa.eu/legal-content/EN/TXT/?uri=CELEX%3A32021R0817.
Guilbault, M. (2018). Students as customers in higher education: The (controversial) debate needs to end. Journal of retailing and consumer services, 40, 295-298.
Hendricks, K. B., & Singhal, V. R. (2001). Firm characteristics, Total Quality Management, and financial performance. Journal of Operations Management, 19(3), 269–285.
Minguet, P. A., Martinez-Agut, M. P., Palacios, B., Piñero, A., & Ull, M. A. (2011). Introducing sustainability into university curricula: An indicator and baseline survey of the views of university teachers at the University of Valencia. Environmental Education Research, 17(2), 145–166. https://doi.org/10.1080/13504622.2010.502590.
Nadim, Z. S., Al-Hinai, A. H. (2016). Critical success factors of TQM in higher education institutions context. International Journal of Applied Sciences and Management, 1(2), 147-156.
Nogueiro, T. (2022). Gestão pela QualidadeTotal e Objetivos de Desenvolvimento Sustentável nas Instituições de Ensino Superior Portuguesas: Contributo do programa Erasmus+ no âmbito do International Credit Mobility (Tese de doutoramento não publicada).
Salleh, M. I., Habidin, N. F., Noor, K. M., & Zakaria, S. Z. S. (2019). The development of higher education for sustainable development model (HESD): Critical success factors, benefits, and challenges. International Journal of Academic Research in Progressive Education and Development, 8(4), 47-54.
Salvioni, D. M., Franzoni, S., & Cassano, R. (2017). Sustainability in the higher education system: An opportunity to improve quality and image. Sustainability (Switzerland), 9(6), 1–27. https://doi.org/10.3390/su9060914.
Velazquez, L., Munguia, N., & Sanchez, M. (2005). Deterring sustainability in higher education institutions: An appraisal of the factors which influence sustainability in higher education institutions. International Journal of Sustainability in Higher Education, 6(4), 383–391. https://doi.org/10.1108/14676370510623865.
Gestão; Qualidade Total; Desenvolvimento sustentável; Eraasmus+; International Credit; Mobility