Apreciação da evolução do desenvolvimento sustentável na indústria
O desenvolvimento sustentável é hoje um conceito abrangente para a política e planeamento dos governos e organizações. Uma definição de desenvolvimento sustentável amplamente aceite é a da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), que no reconhecido relatório de Brundtland define o desenvolvimento sustentável como a capacidade de satisfazer as necessidades da geração atual sem comprometer as necessidades das gerações futuras (Gimenez et al., 2012). Esta ampla definição integra questões sociais, ambientais e económicas, retratando o lema “Pessoas, Planeta e Prosperidade” da Organização das Nações Unidas (ONU) (Moldan et al., 2012).
Ainda que existam diversas interpretações de sustentabilidade, para ajudar a operacionalizar o conceito de desenvolvimento sustentável surge a abordagem de triple bottom line (Ranjbari et al., 2021), que considera que deve ser alcançado um desempenho mínimo nas dimensões social, ambiental e económica (Seuring & Müller, 2008).
Posto isto, a perpectiva criada por Elkington depreende que as atividades económicas têm importantes consequências sociais e ambientais, perante o qual as organizações devem assumir as suas responsabilidades (Wu, 2013). Ao abordar a sustentabilidade é necessária uma visão holística sobre as suas três dimensões (Müller & Voigt, 2018), equilibrando as questões sociais, ambientais e económicas (Birkel et al., 2019).
Impossível será desassociar desta temática os atuais Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que têm servido como indicadores para fundamentar a avaliação global do progresso equilibrado dos países (Hák et al., 2016).
A Agenda 2030 é composta por 17 objetivos (Kroll et al., 2019) que tem como principal propósito transformar o mundo, enfrentando múltiplos desafios para garantir o bem-estar, proteção ambiental e prosperidade económica (Pradhan et al., 2017).
A sua principal característica é a universalidade, promovendo o desenvolvimento sustentável a todos os níveis, do global ao local (ElMassah & Mohieldin, 2020), proporcionando aos setores privados a oportunidade de assumir um papel fundamental na aceleração da implementação dos ODS (Rashed & Shah, 2021).
A União Europeia tem-se figurado como um dos principais intervenientes para alcançar a sustentabilidade dos seus Estados-Membros, através de uma forte aposta e reformulação do seu modelo económico, no qual o clima e a sustentabilidade são partes lógicas dominantes, exigindo uma coordenação de políticas e legislação adequadas ao objetivo holístico requerido pelo desenvolvimento sustentável, para tal, fomenta restrições cada vez mais apertadas no espaço económico europeu de forma a responsabilizar o uso sustentável dos recursos sem colocar em causa as atuais e futuras necessidades das gerações (Bongardt & Torres, 2022).
Deste modo, em 2019 a Comissão Europeia (CE) divulgou o Pacto Ecológico Europeu (PEE), estabelecendo um pacote de medidas apoiado numa transição sustentável, através de uma estratégia que visa atingir a neutralidade climática até 2050 (Bongardt & Torres, 2022). De forma a alcançar os pressupostos do pacto, o sistema produtivo Europeu exigiu a aplicação de políticas industriais “verdes” que abordam conjuntamente a sustentabilidade ambiental, mudança estrutural e justiça dos resultados económicos (Pianta & Lucchese, 2020).
Em 2014 a União Europeia lança a Diretiva de Reporte de Informação Não-Financeira, que tem como objetivo responsabilizar as empresas pelo seu impacto na sociedade e ambiente, e proporcionar às partes interessadas dados referentes a esses impactos (Baumüller & Sopp, 2022).
Em 2022 o Conselho da União Europeia aprova a “Diretiva Comunicação de Informações sobre Sustentabilidade das Empresas”, mais comummente designado por Diretiva de Reporte Corporativo de Sustentabilidade (DRCS) que exige que as grandes organizações publiquem relatórios sobre o seu impacto nas dimensões social, ambiental e económica, ou seja, informações sobre riscos e oportunidades que impactem nas atividades das pessoas e meio ambiente, de forma a avaliar o desempenho de sustentabilidade das empresas, como parte do Acordo Verde Europeu (European Commission, Official Website, n.d.).
Muitas empresas que pretendem gerar benefícios monetários e não monetários tem especial atenção à responsabilidade social corporativa e à sustentabilidade, voluntariando-se por prestar contas do seu desempenho sustentável de forma a influenciar as decisões das partes interessadas (Schreck & Raithel, 2015).
Deste modo, existe uma simbiose entre a necessidade de comunicar a sustentabilidade, ou seja, os relatórios de sustentabilidade e a responsabilidade social corporativa (RSC(E)), uma vez que a comunicação destas informações, aliadas à lucratividade de longo prazo com justiça social e proteção ambiental é vista como uma possibilidade de demonstrar a preocupação perante as partes interessadas e identificar o verdadeiro valor da organização (Dienes et al., 2016).
Nos últimos anos, tem-se afirmado um crescente corpo de literatura relativos ao desenvolvimento sustentável na indústria (Zinkernagel et al., 2018). Desta forma, achou-se pertinente analisar a sua evolução através de um estudo de revisão de literatura e construção de redes bibliométricas que dessem resposta à seguinte questão: “Qual tem sido a evolução do desenvolvimento sustentável na indústria ao longo das últimas décadas?”
Baumüller, J., & Sopp, K. (2022). Double materiality and the shift from non-financial to European sustainability reporting: review, outlook and implications. Journal of Applied Accounting Research, 23(1), 8–28. https://doi.org/10.1108/JAAR-04-2021-0114/FULL/PDF
Birkel, H. S., Veile, J. W., Müller, J. M., Hartmann, E., & Voigt, K. I. (2019). Development of a Risk Framework for Industry 4.0 in the Context of Sustainability for Established Manufacturers. Sustainability 2019, Vol. 11, Page 384, 11(2), 384. https://doi.org/10.3390/SU11020384
Bongardt, A., & Torres, F. (2022). The European Green Deal: More than an Exit Strategy to the Pandemic Crisis, a Building Block of a Sustainable European Economic Model*. JCMS: Journal of Common Market Studies, 60(1), 170–185. https://doi.org/10.1111/JCMS.13264
Dienes, D., Sassen, R., & Fischer, J. (2016). What are the drivers of sustainability reporting? A systematic review. Sustainability Accounting, Management and Policy Journal, 7(2), 154–189. https://doi.org/10.1108/SAMPJ-08-2014-0050/FULL/PDF
ElMassah, S., & Mohieldin, M. (2020). Digital transformation and localizing the Sustainable Development Goals (SDGs). Ecological Economics, 169, 106490. https://doi.org/10.1016/J.ECOLECON.2019.106490
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Desenvolvimento sustentável; Evolução; Indústria